sexta-feira, junho 04, 2004

Dinossauros, vacas e pessoas muito estúpidas

Se isso diz algo de bom a respeito da humanidade, uma coisa que não falta no mundo são bons cartunistas. Do ácido Ted Rall, passando pelo inteligente e ótimo fisionomista Tom Toles, pelo genial Bill Waterson (gênio de uma obra só - Calvin & Hobbes - se é que se pode chamar anos a fio de tiras geniais e revolucionárias de "uma obra só"...), pelo brasileiríssimo Laerte, até os sem-home-page irmãos Paulo e Chico Caruso (um o autor da charge Avenida Brasil da revista Istoé, o outro criador das hilárias charges que aumentam um pouco o - baixo - QI das edições do Jornal Nacional da Globo), para citar somente alguns, temos uma imensa oferta de humor e reflexão séria condensada em pílulas (em alguns casos, pancadas) que podem ser lidas e apreciadas mesmo no nosso frenético dia-a-dia moderno.

Um deles, todavia, tem uma característica inusitada: é o cartunista preferido da comunidade científica. Se um dia você entrar num laboratório de física ou química e se deparar com um xerox de cartum colado na parede, são grandes as chances de que seja um desenho do Gary Larson. Mais: se você vascular um catálogo de espécies de insetos, encontrará uma espécie de piolho (Strigiphilus garylarsoni)e outra de borboleta (não consegui encontrar o nome...) batizadas em homenagem ao cartunista autor da série The Far Side (para quem tiver curiosidade, aqui pode ser encontrada uma lista de nomes científicos que homenageiam pessoas famosas, como a cobra Montypythonoides riversleighensis). A fama dele é tanta entre a turma de jaleco que ele foi objeto de duas perguntas num exame de entomologia (questões 1 e 2 da seção 7) na Universidade da Califórnia, Davis.

Larson se especializou numa forma de cartum de pouquíssimo texto, cujas imagens retratam situações absurdas - algumas absolutamente indecifráveis - geralmente tiradas de concepções errôneas do senso comum sobre fatos científicos, como a do besouro-pai falando para a filha que se prepara para sair à noite: "Garota, volte já aqui e tire o excesso de ferormônio!", ou de transposições de hábitos tipicamente humanos para animais. De 1979 a 1995, com uma pausa de 14 meses entre 88 e 90, Larson produziu mais de 4000 cartuns. Todavia, o medo de que sua obra caísse na mediocridade dos cartuns veteranos (veja-se o atual estado do Garfield, por exemplo) fez com que ele parasse de desenhar The Far Side em janeiro de 1995 (para sempre, ao que parece).

No ano passado, para deleite dos fãs, foi lançada uma coleção de luxo, em dois volumes acondicionados num case, contendo todos os cartuns do Far Side publicados em jornais de todo o mundo. No tradicional formato dos livros-coleção do Larson, 4 quadros em cada página, são mais de 1200 páginas de pura bizarrice e humor inteligente. Não surpreende que tenha esgotado rapidamente, antes de minha conta bancária conseguir acumular os mais de 100 dólares que custaria ter essa beleza em casa. Agora, todavia, para felicidade de nerds e pesquisadores de ponta, uma nova edição do The Complete Far Side está à venda. Acho que novamente minha conta bancária não vai conseguir se preparar a tempo de comprá-la, mas se algum leitor o fizer, fica desde já feito o pedido de empréstimo. Além disso, se o Papai Noel estiver lendo esse post, fica já feito o pedido para o Natal. Prometo que prego uma meia maior na lareira este ano para aguentar o peso do presente :-)


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