sábado, junho 05, 2004

Sobre o "Casamento" Gay

[O post abaixo foi uma resposta que mandei para um amigo meu que repassou por email a seguinte notícia sobre a possibilidade, por força de uma decisão judicial, da oficialização do "casamento" entre gays. Dada a proposta desse blog, achei que seria ineressante colocá-lo também aqui.]

Durante minhas aulas na faculdade, normalmente eu faço uma provocação com meus alunos. Todos os anos, muitos deles resolvem fazer seu trabalho de conclusão de curso sobre a "União Civil de Pessoas do Mesmo Sexo" (nome jurídico para o que se chama, erradamente, de Casamento Gay).

Por isso eu pergunto em sala de aula por que eles acham que se deveria regularizar a situação dos gays que vivem juntos mas que não têm essa união reconhecida para fins legais; eles respondem que não se pode discriminar pessoas com base na sua opção sexual, que o que caracteriza a união estável é a vontade de viver junto, independentemente do sexo dos componentes do "casal", e outros argumentos de cunho tipicamente moral.

Daí eu dou o mata-leão: pergunto se, já que deveríamos legalizar a união homossexual, então deveríamos também facilitar a adoção de crianças por casais gays, e trago para discussão o caso do filho da Cássia Eller e pergunto com quem deveria ficar a guarda da criança. Nesse momento, a maioria dos liberais-progressistas das minhas classes viram moralistas da TFP e dizem que não, que isso seria prejudicial para a criança (certamente porque ela poderia se tornar gay também, ou porque seria criada numa casa de conduta moral duvidosa etc.), que apenas heterossexuais deveriam poder adotar, que o Pedrão deveria ficar com os avós e não com a "viúva" da Cássia...

Assim, se Sorocaba serve de padrão de comparação para o Brasil - acho que sim - o que me parece nessa notícia, em última análise, é que ela não significa uma melhora na visão que a sociedade brasileira faz do homossexual, nem que o estigma que traz ser gay no Brasil tenha diminuído. A mim me parece que o que demonstra a crescente aceitação do casamento gay é menos a aceitação do homossexualismo como conduta moral e socialmente aceitável - veja-se o final da notícia -, do que uma tentativa de eliminar certas situações onde a solução legal para o caso seria de uma injustiça tremenda (por exemplo, se um casal homossexual que viveu junto durante muito tempo se separar, como ficará a questão ds bens comuns se apenas um dos parceiros tiver trabalhado enquanto o outro tiver ficado "cuidando da casa"? Pela nossa lei atual, o último não terá direito a nada...).

Admito que já é alguma coisa, mas não acho que seja a revolução que alguns acham que esteja ocorrendo. Todavia, se isso serve de consolo, pelo menos no Brasil (aparentemente) não temos um presidente homofóbico como o Jorge Moita que, ao saber que alguns estados estavam concedendo autorizações para essa união e que isso estava sendo considerado legal pelos tribunais estaduais, prontamente declarou apoio um projeto de emenda constitucional proibindo qualquer reconhecimento da união homossexual.


sexta-feira, junho 04, 2004

Dinossauros, vacas e pessoas muito estúpidas

Se isso diz algo de bom a respeito da humanidade, uma coisa que não falta no mundo são bons cartunistas. Do ácido Ted Rall, passando pelo inteligente e ótimo fisionomista Tom Toles, pelo genial Bill Waterson (gênio de uma obra só - Calvin & Hobbes - se é que se pode chamar anos a fio de tiras geniais e revolucionárias de "uma obra só"...), pelo brasileiríssimo Laerte, até os sem-home-page irmãos Paulo e Chico Caruso (um o autor da charge Avenida Brasil da revista Istoé, o outro criador das hilárias charges que aumentam um pouco o - baixo - QI das edições do Jornal Nacional da Globo), para citar somente alguns, temos uma imensa oferta de humor e reflexão séria condensada em pílulas (em alguns casos, pancadas) que podem ser lidas e apreciadas mesmo no nosso frenético dia-a-dia moderno.

Um deles, todavia, tem uma característica inusitada: é o cartunista preferido da comunidade científica. Se um dia você entrar num laboratório de física ou química e se deparar com um xerox de cartum colado na parede, são grandes as chances de que seja um desenho do Gary Larson. Mais: se você vascular um catálogo de espécies de insetos, encontrará uma espécie de piolho (Strigiphilus garylarsoni)e outra de borboleta (não consegui encontrar o nome...) batizadas em homenagem ao cartunista autor da série The Far Side (para quem tiver curiosidade, aqui pode ser encontrada uma lista de nomes científicos que homenageiam pessoas famosas, como a cobra Montypythonoides riversleighensis). A fama dele é tanta entre a turma de jaleco que ele foi objeto de duas perguntas num exame de entomologia (questões 1 e 2 da seção 7) na Universidade da Califórnia, Davis.

Larson se especializou numa forma de cartum de pouquíssimo texto, cujas imagens retratam situações absurdas - algumas absolutamente indecifráveis - geralmente tiradas de concepções errôneas do senso comum sobre fatos científicos, como a do besouro-pai falando para a filha que se prepara para sair à noite: "Garota, volte já aqui e tire o excesso de ferormônio!", ou de transposições de hábitos tipicamente humanos para animais. De 1979 a 1995, com uma pausa de 14 meses entre 88 e 90, Larson produziu mais de 4000 cartuns. Todavia, o medo de que sua obra caísse na mediocridade dos cartuns veteranos (veja-se o atual estado do Garfield, por exemplo) fez com que ele parasse de desenhar The Far Side em janeiro de 1995 (para sempre, ao que parece).

No ano passado, para deleite dos fãs, foi lançada uma coleção de luxo, em dois volumes acondicionados num case, contendo todos os cartuns do Far Side publicados em jornais de todo o mundo. No tradicional formato dos livros-coleção do Larson, 4 quadros em cada página, são mais de 1200 páginas de pura bizarrice e humor inteligente. Não surpreende que tenha esgotado rapidamente, antes de minha conta bancária conseguir acumular os mais de 100 dólares que custaria ter essa beleza em casa. Agora, todavia, para felicidade de nerds e pesquisadores de ponta, uma nova edição do The Complete Far Side está à venda. Acho que novamente minha conta bancária não vai conseguir se preparar a tempo de comprá-la, mas se algum leitor o fizer, fica desde já feito o pedido de empréstimo. Além disso, se o Papai Noel estiver lendo esse post, fica já feito o pedido para o Natal. Prometo que prego uma meia maior na lareira este ano para aguentar o peso do presente :-)


quarta-feira, junho 02, 2004

Lembrança de Infância

"Aquarela", do Toquinho, é uma música que me marcou desde a primeira vez que a ouvi. Ainda hoje, quando a ouço ela me emociona. Deve ser porque, na época em que foi lançada, eu era um garoto introvertido que gastava folhas e folhas de caderno desenhando, e a música fala justamente da vida através de desenhos. O vídeo da música era muito bonito também, feito em animação, mas faz anos que não o vejo.

Hoje, todavia, fiquei sabendo que uma animação feita para o site Mundo da Criança com "Aquarela" como trilha sonora ganhou o "Liv Ullmann Peace Prize", prêmio concedido pelo júri do Chicago International Children's Film Festival. A animação, que pode ser vista aqui, lembra o vídeo original, afinal ela também segue palavra por palavra a letra da música, mas é extremamente bem feita e emociona. Dá para manter as esperanças de que o entretenimento infantil não esteja condenado a se reduzir à Xuxa, à Kelly Key e, Deus nos livre disso, à Carla Perez.

Não deixe de assistir!


Cuidado com os Emails que você recebe!

Um dos efeitos da assimilação da Internet pelo mundo jurídico são as cada vez mais frequentes mensagens legais (disclaimers) ao final dos emails que recebemos. Imagine receber uma mensagem de um amigo convidando para um happy-hour, ou repassando uma piada cabeluda e, ao final, deparar-se com uma mensagem do tipo:

"Essa mensagem é destinada exclusivamente ao seu destinatário e pode conter informações confidenciais, protegidas por sigilo profissional ou cuja divulgação seja proibida por lei. O uso não autorizado de tais informações é proibido e está sujeito às penalidades cabíveis.

Será que agora receber emails pode criar obrigação para o destinatário? Um interessante artigo (em inglês) publicado na Slate joga um pouco de luz no assunto. Segundo o autor, na melhor das hipóteses esse tipo de requerimento equivale a uma solicitação, e jamais a uma ordem legal.

Por outro lado, quando os advogados se metem a dizer como as empresas devem usar seus emails, coisas engraçadas com certeza acontecem. O site inglês The Register fez uma seleção e publicou o mais longo, o mais politicamente correto e o mais incompreensível disclaimer que seus leitores já receberam. Hilário.



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