segunda-feira, setembro 13, 2004

Flagrante urbano - II (Eleições)

Cenário: Elevador do prédio histórico da São Francisco.

Ouço as portas do aparelho se movendo e acelero o passo para não perdê-lo e ter de encarar exaustivos dois lanços de escada em direção ao térreo. A aceleração foi o suficiente para que tivesse tempo de interpor meu braço no vão antes do fechamento completo da porta, contando com a sorte para que nenhuma falha impedisse o sensor de presença da porta de detectá-lo e impedir que o fechamento abrupto me inutilizasse barço e mão direitos por algum tempo. A sorte estava do meu lado.

Entro no elevador, apenas para perceber que ele estava subindo. Como a viagem custa o mesmo, não importando o número de paradas, escostei-me num canto do caixote e fiquei observando a conversa de três funcionárias do serviço terceirizado de limpeza do prédio. Um delas mostrava às outras um carteira de documentos, dessas de plástico que se consegue de graça em despachantes ou pagando R$ 1,99 em qualquer camelô:

- Ganhei de um candidato a vereador, que me ajudou a tirar CIC e RG. Agora tenho de votar nele.

- E ele é bom? Responde uma das amigas;

- Não sei. E isso importa?

Toca o sinal sonoro do elevador, avisando que chegamos ao terceiro andar. Elas saem, dirigindo-se a seus afazeres, e me deixam sozinho no elevador com destino ao térreo, mais certo do que nunca de que há algo de muito errado, de muito errado mesmo, com o nosso sistema político e o nosso pretenso Estado Democrático de Direito.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?