quinta-feira, setembro 02, 2004

Pérolas das Eleições 2004 (I)

Época de campanha sempre é tempo bom para farejar abobrinhas e incoerências. Como sou masoquista ao extremo e costumo acompanhar os horários políticos na TV ou no rádio, só para ver até onde vai a cara de pau e o despreparo dos candidatos, acabo pegando várias coisas. Tanto que decidi postar no Maisde80K algumas pérolas que pesco desses meus mergulhos diário na boçalidade e no desrespeito puro e simples a nós eleitores.

Começo pela minha impressão mais vívida dessa campanha: ao que parece, a eleição principal não será para prefeito, como se cria, mas para secretário da saúde. É só disso que se fala nesses programas!

De um lado, temos a proposta petista dos CEU-Saúde, que apesar do nome não é um exemplar do revolucionário modelo de gastar dinheiro em educação popular situado no aprazível bairro da Saúde, mas um super-mega-hiper-posto de saúde, com o qual a prefeita-candidata tenta igualar o jogo no ponto forte de seu adversário mais forte, o economista ex-ministro da saúde. É, no mínimo, suspeito: segundo a versão oficial, o projeto vem sendo gestado em segredo há dois anos e só agora ficou pronto para ser divulgado (conta outra, vai...); parece um projeto ótimo, capaz de resolver pelo menos parte do problema do serviço público de saúde do município, desafogando hospitais, cuja manutenção é mais custosa, apenas para casos mais sérios, deixando o atendimento de rotina e de menor gravidade para um centro integrado; ocorre que o custo envolvido na sua implantação, diante da conhecida penúria da Prefeitura, dá-lhe um desagradável aroma de Fura-Fila, outro projeto feito sob encomenda para ganhar eleição e cuja carcaça rota hoje enfeia ainda mais a região da Av. do Estado, que já era suficientemente empestiada pelo cheiro do rio Tamanduateí.

Do outro lado do front, propostas para atendimento a gestantes, para o PSF (Programa Saúde da Família), uma irritante musiquinha biográfica do candidato onde se lembram seus feitos (quase todos na área da saúde, única passagem de seu currículo em que exerceu função de administração pública). Num daqueles spots de poucos segundos que pipocam na programação diária, aparece o próprio mostrando sua coragem, afirmando que o programa de genéricos o obrigou a "enfrentar interesses", seja lá o que ele queira dizer com isso...

No final das contas, acho que os cidadãos privilegiados de São Paulo devem estar se sentindo meio excluídos nessa campanha. Para eles, que têm plano de saúde e atendimento oftalmo e odontológico garantido, essa campanha anda muito pobre de idéias. Toda a discussão gira em torno de um assunto que não nos - sim, pois eu felizmente não dependo do sistema municipal de saúde - interessa de maneira alguma. O único sopro de novidade, por incrível que pareça, vem do ex-prefeito e candidato que pede a todos que esqueçam do seu pedido de não mais votarem nele, cujas propostas, todas elas, buscam atender essa classe desprezada pelos políticos mais cotados para serem eleitos: pontes, viadutos, túneis, prolongamento de avenidas e da Marginal Pinheiros, tudo para facilitar o tráfego de automóveis nessa cidade que por incrível que pareça ainda não alcançou o limite de saturação de poluentes sólidos... Mas não pense que esse resiliente candidato esquece-se dos pobres e miseráveis da cidade: propõe a volta do Cingapura e do PAS, o sistema de administração de saúde pública que fez uma revolução na saúde de São Paulo, mas que infelizmente ficou apenas na primeira fase desse tipo de processo: a de destruição do status quo...

Enfim, para os que sofrem com doenças, os próximos quatro anos prometem ser de grande ínteresse (e potencial decepção). Para todos os outros, essa eleição parece um grande tiro no escuro, tamanha a falta de propostas e de políticas que os canditatos expõem.

E você, já escolheu em quem votar para ser o próximo secretário da saúde do município?


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