quarta-feira, fevereiro 27, 2008

A "Festa" da Net, ou TANSTAAFL

Estou tentando diminuir meus gastos de telefone, que andam altos e estou fazendo as contas do que mais me beneficia. Como já assino a Net e o Virtua, resolvi fazer as contas do NetFone, que, pelo menos no papel, tem tarifas competitivas em relação à telefônica e não diferencia a tarifação no plano mais caro. Explico: pela telefônica, no plano mais caro, qualquer ligação é tarifada em no mínimo 4 minutos, ao passo que no plano básico, a tarifação mínima é de 30 segundos; no meu caso, nenhum dos dois me adianta muito, porque faço muitas ligações, mas poucas que passam de 4 minutos, logo tenho de escolher entre pagar caro por minuto, ou pagar por tempo de ligação que não uso. Cool!

O NetFone tem a vantagem de que o plano mais caro não cobra uma ligação mínima maior, então é vantagem, pelo menos para quem como eu liga muito mas fala pouco. Por isso, entrei na página dos caras e fiz o pedido para que eles me ligassem (eu não vou pagar ligação para o número pago deles para adquirir um serviço, não é mesmo? O interesse é todo deles)

O atendente acabou de me ligar. Me propôs entrar no tal NetCombo. Mantendo os meus produtos atuais, eu teria o NetFone sem franquia por um ano (pagaria somente o que utilizar), e ainda receberia, grátis, 1 ponto adicional de TV. Preço: 199,00 por mês.

Até aí, beleza, mas eu estava com a minha fatura do mês na mão e vi que, hoje, eu pago 176,80 pela TV (76,90) e pelo Virtua (99,90). Ou seja, se eu adquirisse o NetFone (sem pagar por 12 meses) eu aumentaria a minha conta em 22,20 reais por mês.

Questionei o cara sobre esse valor e me disse, na maior cara de pau, que eu não estava pagando nada pelo NetFone, só pagaria pelo uso. Mostrei para ele que minha conta ia ficar mais cara, e ele manteve a tese. Só caiu a máscara na terceira tentativa de explicar o óbvio: ao contratar o tal NetCombo, eu estaria, na verdade, fazendo um novo contrato com a Net (ou novação, como acho que se diz em direito, porque nunca estudei muito direito civil) e, com isso, seria aplicado desde já um reajuste nos preços da Net que eu só teria de pagar no próximo aniversário da minha assinatura (que só ocorre daqui a nove meses). Além disso, ele estava me vendendo um serviço que eu optei conscientemente por não adquirir, o serviço de assistência técnica da Net (15 mangos por mês), que, em 2 anos e meio, nunca me foi necessário (curiosamente, na "Festa dos Nets", quem contrata os três produtos é obrigado a contratar também a assistência técnica inútil... Isso ainda que a assistência, quando a falha é da Net, tem de ser gratuita por lei e por contrato).

Só de sacanagem, perguntei quanto custa atualmente o meu pacote de TV na Net. Resposta: 91,90, com o serviço de assistência (que é opcional mas os caras não avisam o cliente). Tire 15,00 desse valor e voltamos ao valor que eu pago hoje, de 76,90. Isso foi o mais espantoso: NÃO HOUVE AUMENTO NENHUM NA MENSALIDADE!

A essa altura, eu já estava indignado com a cara de pau da empresa (como se isso fosse algo inesperado...), mas jogando no papel que os valores que o atendente me passou, ainda assim a conta não fecha. Vejamos:


TV 76,90
Virtua 99,90
Assistência 15,00 (mais a inutilidade do serviço)

------------
Total 191,80

Se o preço do NetCombo é 199,00, onde foram parar os R$7,20 restantes? Óbvio que é o preço que você paga pelo NetFone, que, segundo a propaganda (enganosa) da Net, é gratuito. Além do mais, como esses 7,20 não são franquia, você não tem nem um minuto incluso no preço. Resultado é que aceitar essa proposta, para economizar uns tostões com a telefonica, resultaria em gastar mais por mês do que eu gasto hoje (porque eu ia substituir o fixo pelo NetFone).

Enquanto escrevo isso, caiu a ficha do estratagema por trás da "promoção" da Net. A isenção de franquia é a contrapartida da fidelização - o contrato é assinado com prazo mínimo de 12 meses. Como para adquirir o produto eu estaria encarecendo minha conta em R$ 22,20/mês (sem uma correspondente utilização de serviço), um ano desse acréscimo dá um total de R$ 266,40. Fui ao site e vi que, pela instalação do produto, paga-se 300 paus, mas essa taxa não é cobrada que quem já tem os outros produtos Net. Ligue os pontos e veja que, na verdade, nós pagamos essa taxa, com um desconto de 33,60 - menos do que uma franquia do NetFone, que ainda te dá direito a 349 minutos de conversação. É muita empulhação! E, como a cereja no sundae, após os 12 meses de "gratuidade", você começa a pagar os tais 34,90 mensais de franquia, use ou não o produto.

Ah! E antes que alguém mais atento - ou menos entediado pela leitura - diga que os tais R$7,20 são o preço do ponto adicional - o que seria mesmo uma pechincha, se eu tivesse uso para duas TVs em casa... a que tenho passa a maior parte do tempo desligada - eu apenas lembro que a Anatel recentemente estabeleceu que é direito do assinante a ativação gratuita de um ponto extra na residência, regra válida a partir de junho de 2008. Logo, estão cobrando por um serviço que, por lei, deverá ser gratuito (eu nem vou entrar no mérito da questão sobre se, proibidas de cobrar por ponto adicional, as prestadoras vão passar a cobrar aluguel dos decodificadores... Alguém duvida?).

Essa foi apenas mais uma comprovação da máxima que Milton Friedman tanto gostava: There Ain't No Such Thing as a Free Lunch (TANSTAAFL).

É isso. Acho que eu precisava desabafar.

PS: Sim, o Maisde80k está de volta. Não garanto periodicidade, mas não tenho mais desculpa para não escrever...


quinta-feira, janeiro 27, 2005

Malvados é pouco...

Eu não sou exatamente um exemplo de concisão quando escrevo. O próprio título desse blog é uma constatação isso, já que meus textos, mesmo sem formatação, ocupam vários e vários kbytes. Talvez seja por causa disso que eu admire tanto exemplos de concisão e precisão na comunicação. Lembro-me até hoje de um haicai que li ainda no colégio ("chão tranquilo / Riscou-o, então, a sombra de um vôo / Sou céu, disse o chão") que dizia em três curtas frases o que eu não conseguia dizer em três páginas das minhas tentativas poéticas de infância.

Hoje encontrei outro desses exemplos magistrais de concisão. Alguns de vocês já devem ter reparado no banner ao lado que aponta para o site dos Malvados, uma tirinha de humor tremendamente cáustica que descobri há pouco tempo e que desde então virou leitura diária. A tira de hoje resumiu em três quadrinhos uma antiga opinião minha sobre as famosas "Marchas pela Paz" que certamente consumiria algumas dezenas de kbytes de texto se eu fosse formulá-la por escrito. Por isso, vou me limitar a colocá-la aqui no Maisde80k.




Malvados - 27/01/2005


Precisa dizer algo mais?


terça-feira, janeiro 25, 2005

O Primeiro do Ano

Meu Corinthians acaba de ganhar a Copa São Paulo! Só espero que o time milionário que a MSI (Misteriosos e Sorrateiros Investidores) está montando para a equipe principal demonstre metade da garra que os meninos exibiram nessa final e nos outros jogos da Copinha. Mas eu, como bom pessimista, não espero muito de Tevez, Sebá e cia ltda...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Estado... de São Paulo ou de Lisboa?

Não sei por quanto tempo esta notícia será mantida no site do Estadão, então copio o texto para registrar...

São Paulo - A Vivo assinou nesta quarta-feira contrato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com validade de 10 anos, com valor estimado em 30 milhões de euros, para patrocinar as seleções masculina e feminina, e também as de base. A operadora irá estampar sua marca na manga dos uniformes de treino das equipes do Brasil. Para promover o acordo, a Vivo escalou a top model Gisele Bündchen, com quem mantém contrato.

"É o maior patrocínio da história da Vivo e uma grande aposta", afirmou o presidente da operadora Francisco Padinha, durante uma conferência de imprensa, em São Paulo. "A selecção brasileira reúne atributos mundialmente conhecidos e totalmente alinhados à marca Vivo, como liderança, espírito de equipa, criatividade, além do forte sentimento de brasilidade", afirmou Padinha.

O contrato prevê a distribuição de conteúdos por meio dos telemóveis da operadora, a aplicação da marca Vivo nas mangas das camisolas de treino da selecção e também no autocarro que transporta os jogadores. "A CBF tem a convicção de que essa interação será muito importante para a evolução do futebol brasileiro", salientou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

A modelo irá estrelar uma campanha publicitária para mostrar o novo uniforme de treino para o torcedor. A estratégia da companhia é testar o poder da modelo e do seu acordo com a CBF. O vice-presidente de Marketing da Vivo, Luis Avelar, salientou que "um grande negócio" nos próximos dez anos será a comercialização pela operadora de notícias, jogos, gols e informações sobre a selecção.


"Telemóveis"? "Camisolas de treino"? "Autocarro"? É impressão minha ou alguém se esqueceu de abrasileirar o português do press release da Vivo (que é da Portugal Telecom)?

Informou o cata-pulga do Maisde80k.


PS: Um ótimo 2005 para todos!

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Belated Happy Birthday

Não é só do aniversário de parentes e amigos que eu costumo me esquecer... Dia 1o. de Dezembro de 2004, quarta-feira passada, o Maisde80k completou um ano de existência, iniciada com um post sobre a Maria Rita Mariano.

Eu nem tinha me dado conta de que já fazia tanto tempo que eu escrevia aqui! Só fui cair em mim quando notei que o primeiro link dos Archives aí do lado é de Dezembro de 2003... O tempo passa e com ele a nossa vida vira de cabeça para baixo: há um ano atrás eu estava em dúvida se seria ou não aceito no doutorado, hoje estou em dúvida se serei ou não aceito para pesquisar nos EUA... O Rique ainda estava solteiro, Howard Dean era o mais cotado candidato para derrotar Bush nas eleições para Presidente nos EUA e o Corinthians tinha conseguido por pouco escapar do rebaixamento no Brasileiro.

O contador de visitas aí ao lado indica mais de 3600 visitas. São quase 10 por dia, para ler meus longos e por vezes enrolados rants sobre assuntos que vão de Maria Rita a Cartola, da exigência de identificação de americanos nos aeroportos brasileiros à união civil de pessoas do mesmo sexo, passando pelo Direito à Reprodução. Não é muito, mas já mostra que essas minhas maluquices, nem que seja pela curiosidade que despertam, interessam a algumas pessoas que gastam seu tempo visitando o site e lendo o que eu escrevo.

A vocês um obrigado com alguns dias de atraso...


segunda-feira, novembro 22, 2004

Direito e Religião

O New York Times publicou hoje no seu website uma matéria sobre um novo tipo de faculdades de Direito que estão surgindo nos EUA, faculdades criadas por religiosos, no caso os televangelistas Jerry Falwell (líder da Moral Majority e famoso, entre outras coisas, por ter, segundo Larry Flynt, transado com a própria mãe numa latrina depois de tomar um porre de Campari) e Pat Robertson (que tentou ser candidato pelo Partido Republicano à presidência dos EUA em 1988). A reportagem apenas cita outras duas ligadas à Igreja Católica.

Nâo tenho nada contra a interpretação do Direito com base em valores religiosos, até porque negar isso seria tapar o sol com uma peneira: toda análise jurídica é feita com base nos valores do intérprete e o meio deles se encontram valores de cunho religioso. Pensando bem, a negação que eles fazem do relativismo moral que, por várias razões, acabou predominando no pensamento jurídico estadunidense, tem muitos pontos de contato com a argumentação jusnaturalista de preceitos jurídicos/morais imutáveis deduzidos pela razão humana a partir da forma como as coisas são. Até aí, nada de mais, embora eu discorde dessa perspectiva, que, a meu ver, tende a confundir moral com direito, para prejuízo dos dois (para quem se interessa sobre esse assunto, recomendo vivamente a leitura dos caps. XV e XVI do Direito e Razão, de Luigi Ferrajoli)

Mas a porca torce o rabo quando você pega uma declaração como a seguinte:

Prof. Roger C. Bern, who teaches contracts, said that he asked his students to look beyond law as it is ordinarily understood. For example, he said, Christian lawyers should counsel clients not to walk away from oral contracts even where the law allows it.

"The civil government will give you a defense," Professor Bern said. "In God's judgment, I don't know that you're coming off well, making a promise and then breaking it."


Ou então:

Dr. Falwell said he hoped Liberty graduates would choose their cases carefully.

"We will not be committed, for instance, to being good divorce lawyers," he said. "We'll be reconciliation lawyers."


Nada contra acreditar que violações morais na Terra podem acarretar consequências no além-vida, mas daí a instruir o futuro advogado a aconselhar seus clientes a celebrarem contratos oralmente (a pior forma contratual para provar em juízo a existência de um negócio) crendo que a ameaça divina manterá todos "na linha", é uma visão distorcida, se não ingênua, da realidade. Nada contra, também, a ênfase posta na proteção do casamento, cuja vulgarização e fragilização nos últimos tempos é um processo marcante e de efeitos nem sempre benéficos para a nossa sociedade, mas eu tenho dúvidas de o casamento seja, lá, defendido em face do bem do casal, e não simplesmente porque é uma instituição "sagrada" que deve ser protegida a qualquer custo, mesmo que para a infelicidade dos cônjuges...

Por enquanto, segundo a reportagem, tais faculdades ainda não foram reconhecidas pela American Bar Association (a "OAB" lá da matriz), então os seus estudantes correm o risco de ter pago pelo estudo e ficar com um diploma inútil nas mãos. Espero sinceramente que esse reconhecimento só seja feito se, no conjunto, for possível atestar que elas formam profissionais do Direito (ainda que com um bias religioso), e não pregadores de toga.

É isso.

terça-feira, novembro 16, 2004

"Sem tempo, mas ainda vivo...

... o pequeno Wilbur ainda tenta manter seu Blog no ar".

Aos leitores, antes de mais nada, meu pedido de desculpas. A absoluta falta de tempo e uma certa dose de decepção com fatos recentes tanto no Brasil quanto fora andam estancando a veia literária que eu exponho neste espaço. Por isso, mesmo contra a minha vontade, não garanto nenhuma atualização do blog até a virada do ano, exceção feita, talvez, a uma mensagem de Natal e Ano Novo, pois daqui até lá minha folga de horário é praticamente nenhuma.

Notícias sobre a morte do Maisde80k, então, tem se mostrado bastante exageradas, embora aparentemente esta época esteja sendo negra para com os amigos que escrevem (o Entre Quatro Estações morreu e foi enterrado, o Sagan Station há mais de dois meses que mantém a magra média de 1 post por semana, o Litania de Rá foi mumificado e sepultado numa tumba silenciosa por sacerdotes do Deus-Patrão de seu autor, e a lista continua...). O único blog dos amigos chegados que floresce, ao que parece, é o do Andrew, embora, a bem da verdade, não seja exatamente um blog, mas um fotolog, o Peek of Dede (a mais nova adição à lista de blogs aí à direita).

Para terminar, e não ficar apenas na lamentação, vai uma dica de utilidade pública: a para mim já clássica feira do livro da USP chega à sua sexta edição, nos dias 24 a 26 de novembro de 2004, das 9h00 às 21h00, no prédio de HIstória e Geografia da FFLCH, na Cidade Universitária. Já havia mencionado essa feira em abril deste ano, então na 5a. edição, mas como só soube dela perto do final do evento, o aviso deve ter chegado tarde para a maioria. Nas exatas palavras do email que recebi comunicando a data da feira:

"Grande oportunidade para incrementar sua biblioteca. São mais de 100 editoras vendendo suas publicações com descontos a partir de 50%."


Com uma semana de antecedência, deve dar para se programar e aproveitar os descontos. Quem for, deverá me encontrar buscando um exemplar baradínia das biografias de Maquiavel escritas por Sebastian de Grazia (Maquiavel no Inferno) e por Roberto Ridolfi (Biografia de Nicolau Maquiavel).

Para quem for, boas compras (eu sei que farei). Para quem ficar, paciência: mais cedo ou mais tarde volto a ter tempo e inspiração para postar de novo no Maisde80k. Enquanto isso, vou tocando o barco/blog de vez em quando para a maré não levar embora...

quinta-feira, setembro 30, 2004

Pérolas das Eleições 2004 (IV)

Ainda na série das eleições, não deixe de assistir este vídeo-paródia genial com Bush e Kerry atacando-se mutuamente em versos. Genial, especialmente pela última cena.





sexta-feira, setembro 17, 2004

As boas compras

Aos que adoram cinema: O Extra está fazendo uma promoção de DVDs, incluindo alguns ótimos títulos no meio de muita porcaria, todos a R$ 9,90. Eu aproveitei a oportunidade para adicionar 3 novos clássicos do gênero policial à minha coleção: Cães de Aluguel, o genial e sangrento primeiro longa do Tarantino; Amnésia, o estiloso film noir contado de trás para diante; e Os Suspeitos, o primeiro sucesso do diretor Bryan Singer (de X-Men 1 e 2), o filme cuja estrutura o M. Night Shyamalan não se cansa de copiar. Deixei na banca, entre outros, o pesadíssimo Rainha Margot, estrelado pela alvíssima Isabelle Adjani, mas já me arrependi da decisão tomada e assim que passar por uma loja do Extra retifico meu erro.

Se se levar em conta que uma locação na Blockbuster está batendo nos R$ 7,00, ter essas pequenas gemas cinematográficas em casa por menos do que um piratinha da Santa Ifigênia em casa é uma pechincha! Vale aproveitar.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Flagrante urbano - II (Eleições)

Cenário: Elevador do prédio histórico da São Francisco.

Ouço as portas do aparelho se movendo e acelero o passo para não perdê-lo e ter de encarar exaustivos dois lanços de escada em direção ao térreo. A aceleração foi o suficiente para que tivesse tempo de interpor meu braço no vão antes do fechamento completo da porta, contando com a sorte para que nenhuma falha impedisse o sensor de presença da porta de detectá-lo e impedir que o fechamento abrupto me inutilizasse barço e mão direitos por algum tempo. A sorte estava do meu lado.

Entro no elevador, apenas para perceber que ele estava subindo. Como a viagem custa o mesmo, não importando o número de paradas, escostei-me num canto do caixote e fiquei observando a conversa de três funcionárias do serviço terceirizado de limpeza do prédio. Um delas mostrava às outras um carteira de documentos, dessas de plástico que se consegue de graça em despachantes ou pagando R$ 1,99 em qualquer camelô:

- Ganhei de um candidato a vereador, que me ajudou a tirar CIC e RG. Agora tenho de votar nele.

- E ele é bom? Responde uma das amigas;

- Não sei. E isso importa?

Toca o sinal sonoro do elevador, avisando que chegamos ao terceiro andar. Elas saem, dirigindo-se a seus afazeres, e me deixam sozinho no elevador com destino ao térreo, mais certo do que nunca de que há algo de muito errado, de muito errado mesmo, com o nosso sistema político e o nosso pretenso Estado Democrático de Direito.

quinta-feira, setembro 02, 2004

Pérolas das Eleições 2004 (III)

Essa pérola é das eleições 2004, mas das eleições da "Matriz":

Séria candidata ao título de mentira eleitoreira mais deslavada do ano:

Transcrito do site da Detroit Free Press:

Former New York Mayor Rudy Giuliani, himself credited for rallying New Yorkers in the first hours and days after the 2001 attacks, invoked the horrors of that day to drive home the point that Bush is a decisive leader in a dangerous world.

Giuliani spoke about "seeing the flames of hell" and watching a person jump from one of the towers.

"Spontaneously, I grabbed the arm of then-Police Commissioner Bernard Kerik and said to Bernie, 'Thank God, George Bush is our president,' " Giuliani said. "And I say it again tonight, 'Thank God George Bush is our president.' "


TRADUÇÃO: O ex-Prefeito de Nova Iorque, Rudy Giuliani, que tem o crédito de ter liderado os novaiorquinos nas primeiras horas e dias depois dos ataques de 2001, invocou os horrores daquele dia para firmar sua opinião de que Bush é um líder decidido num mundo perigoso.

Giuliani falou sobre "ver as chamas do inferno" e assistir a uma pessoa pular de uma das torres.

"Espontaneamente, eu agarrei o braço do então Comissário de Polícia Bernard Kerik e disse a Bernie,'Graças a Deus, George Bush é nosso presidente'", disse Giuliani. "E eu o digo novamente esta noite, 'Graças a Deus, George Bush é nosso presidente'".
(A íntegra do discurso pode ser encontrada, em inglês, no site da CNN)


Eu quero ser um mico de circo se o cara-de-pau do Giuliani disse isso mesmo naquele dia. Quer dizer que um dos líderes do Partido Republicano não conhecia a peça que tinha ajudado a eleger? Então a reação do Jorge Moita mostrada na famosa cena de quase 10 min. do Farenheit 9/11 não era esperada por quem quer que o conhecesse? E a sua folha corrida de atos de coragem serve de base para uma afirmação descarada como a acima transcrita?

O pior é que até agora não vi reportagem nenhuma estranhando essa frase deslavadamente mentirosa do Giuliani. Tudo bem que é um discurso de Convenção, mas até na política estadunidense devem existir alguns limites morais...



Pérolas das Eleições 2004 (II)

Do programa eleitoral de hoje:

Candidato a vereador do PAN (Partido dos Aposentados da Nação, o tal do óleo de peroba), jovem (uai, já é aposentado? Então deve ser vagabundo...), afirma ter sido garçom e motoboy, que classifica como "duas profissões que são discriminadas em São Paulo" e diz que é a hora do "poder jovem" governar a cidade.

Fico eu cá matutando com meus botões: não é incoerente propalar o "poder jovem", que se opõe, ao que parece, ao "poder idoso", quando se é candidato de um partido que se diz dos Aposentados?


Pérolas das Eleições 2004 (I)

Época de campanha sempre é tempo bom para farejar abobrinhas e incoerências. Como sou masoquista ao extremo e costumo acompanhar os horários políticos na TV ou no rádio, só para ver até onde vai a cara de pau e o despreparo dos candidatos, acabo pegando várias coisas. Tanto que decidi postar no Maisde80K algumas pérolas que pesco desses meus mergulhos diário na boçalidade e no desrespeito puro e simples a nós eleitores.

Começo pela minha impressão mais vívida dessa campanha: ao que parece, a eleição principal não será para prefeito, como se cria, mas para secretário da saúde. É só disso que se fala nesses programas!

De um lado, temos a proposta petista dos CEU-Saúde, que apesar do nome não é um exemplar do revolucionário modelo de gastar dinheiro em educação popular situado no aprazível bairro da Saúde, mas um super-mega-hiper-posto de saúde, com o qual a prefeita-candidata tenta igualar o jogo no ponto forte de seu adversário mais forte, o economista ex-ministro da saúde. É, no mínimo, suspeito: segundo a versão oficial, o projeto vem sendo gestado em segredo há dois anos e só agora ficou pronto para ser divulgado (conta outra, vai...); parece um projeto ótimo, capaz de resolver pelo menos parte do problema do serviço público de saúde do município, desafogando hospitais, cuja manutenção é mais custosa, apenas para casos mais sérios, deixando o atendimento de rotina e de menor gravidade para um centro integrado; ocorre que o custo envolvido na sua implantação, diante da conhecida penúria da Prefeitura, dá-lhe um desagradável aroma de Fura-Fila, outro projeto feito sob encomenda para ganhar eleição e cuja carcaça rota hoje enfeia ainda mais a região da Av. do Estado, que já era suficientemente empestiada pelo cheiro do rio Tamanduateí.

Do outro lado do front, propostas para atendimento a gestantes, para o PSF (Programa Saúde da Família), uma irritante musiquinha biográfica do candidato onde se lembram seus feitos (quase todos na área da saúde, única passagem de seu currículo em que exerceu função de administração pública). Num daqueles spots de poucos segundos que pipocam na programação diária, aparece o próprio mostrando sua coragem, afirmando que o programa de genéricos o obrigou a "enfrentar interesses", seja lá o que ele queira dizer com isso...

No final das contas, acho que os cidadãos privilegiados de São Paulo devem estar se sentindo meio excluídos nessa campanha. Para eles, que têm plano de saúde e atendimento oftalmo e odontológico garantido, essa campanha anda muito pobre de idéias. Toda a discussão gira em torno de um assunto que não nos - sim, pois eu felizmente não dependo do sistema municipal de saúde - interessa de maneira alguma. O único sopro de novidade, por incrível que pareça, vem do ex-prefeito e candidato que pede a todos que esqueçam do seu pedido de não mais votarem nele, cujas propostas, todas elas, buscam atender essa classe desprezada pelos políticos mais cotados para serem eleitos: pontes, viadutos, túneis, prolongamento de avenidas e da Marginal Pinheiros, tudo para facilitar o tráfego de automóveis nessa cidade que por incrível que pareça ainda não alcançou o limite de saturação de poluentes sólidos... Mas não pense que esse resiliente candidato esquece-se dos pobres e miseráveis da cidade: propõe a volta do Cingapura e do PAS, o sistema de administração de saúde pública que fez uma revolução na saúde de São Paulo, mas que infelizmente ficou apenas na primeira fase desse tipo de processo: a de destruição do status quo...

Enfim, para os que sofrem com doenças, os próximos quatro anos prometem ser de grande ínteresse (e potencial decepção). Para todos os outros, essa eleição parece um grande tiro no escuro, tamanha a falta de propostas e de políticas que os canditatos expõem.

E você, já escolheu em quem votar para ser o próximo secretário da saúde do município?


sexta-feira, agosto 27, 2004

Quem é professor e quem é aluno?

Quando comecei esse blog, minha intenção declarada era evitar o tom confessional, de "Meu querido Diário" que os blogs invariavelmente têm. Quero usar este espaço para discutir e argumentar, nem que seja - como o é na maioria das vezes - com poucas pessoas, sobre temas que me interessam ou preocupam. Hoje eu abro uma exceção para essa regra, mas não acho que seja um desvio assim tão grande. O assunto, acho, merece nota.

Como muitos de vocês sabem, sou professor de Direito; Direito Internacional, para ser mais preciso. Profissionalmente, é a única coisa que faço. Não sou advogado (apesar de ter passado no Exame de Ordem, nunca tirei a carteira da OAB), não sou Promotor, Juiz, Consultor, nada disso. Posso sê-lo um dia, mas não hoje. Sou apenas professor.

Não considero dar aulas apenas como meu trabalho. Ganho meu sustento com essa atividade, é verdade, mas prefiro encará-la como a minha profissão, entendida no sentido denotativo de "declaração ou confissão pública de uma crença, uma religião, um sentimento, uma tendência política, uma opinião ou modo de ser" (Houaiss). Não sabia disso quando pisei pela primeira vez numa sala de aula para lecionar, mas foi nesse ambiente que descobri a minha vocação. Posso dizer que sou um dos poucos felizardos que faz o que gosta e é pago por isso.

Essa minha vocação é alimentada por um ideal. Sou o que se pode chamar de felizardo. Pertenço à última geração de filhos de classe média que teve acesso a uma educação de qualidade com preço acessível, o que me permitiu estudar num ótimo colégio (o Arquidiocesano); sempre tive acesso a - bons - livros, que soube aproveitar por uma inclinação natural que, se me afastava do convívio social normal da idade, foi extremamente útil no meu desenvolvimento intelectual (era um nerd, para resumir). O resultado foi que, sem grandes sacrifícios, fui aprovado na Fuvest e cursei Direito na São Francisco. Dos muitos que tentaram, eu fui um dos 450 que entraram lá. Podia ter pago uma faculdade (talvez não a PUC...) mas fiz o curso de graça, como todos os meus colegas, precisássemos ou não.

Quando comecei a dar aulas em Sorocaba, dei-me conta da diferença da minha situação para a da maioria dos meus alunos. A maioria vinha de colégios públicos e tinha uma formação escolar, na melhor das hipóteses, deficiente; para complicar, quase todos trabalhavam em período integral, o que toma o tempo do estudo necessário e deixa o aluno cansado à noite. Ainda assim estavam lá estudando Direito. E pagando - caro - para isso, enquanto na São Francisco, a maioria privilegiada estuda de graça. Quando me dei conta disso, percebi que, se não podia mudar a realidade, pelo menos podia retribuir o que tinha aprendido de graça dando a eles aulas como as que eles teriam se estivessem na USP.

Como diria o Arquiteto, no Matrix 2, a perfeição do meu plano só foi igualada por seu retumbante fracasso. A razão é simples de explicar: eu me esqueci de perguntar para eles se eles queriam aulas como as da USP e se era disso que eles precisavam. Enquanto eu achava que estava fazendo o melhor possível para eles, a opinião deles, salvo raras exceções, era totalmente oposta. Para a maioria, eu era um babaca arrogante que achava que só ele tinha razão. Não falo isso por suspeita: num questionário de auto-avaliação que eu fiz com eles, essas mesmas expressões apareceram várias vezes.

Isso me fez repensar tudo do zero. Não sem muita ajuda, venho nos últimos dois, dois anos e meio, tentando mudar esse quadro. Mudei o jeito de dar aulas, alterei os pontos do programa, o enfoque das matérias, entre outras coisas. Mais importante: passei a conversar com os alunos, ouvir o que eles dizem; só assim consegui ter uma idéia do que eles precisam, e de como eu posso ajudar. E eu busco ajudar no que posso, sempre andando na corda bamba entre a rigidez e o assistencialismo, duas posições que rejeito, a primeira por ser geralmente injusta, a segunda por menosprezar quem é ajudado.

Os resultados têm aparecido. O maior deles, certamente, veio na semana retrasada: dia 12 de Agosto, quinta-feira, fui um dos professores homenageados na Colação de Grau da primeira turma de meio de ano da Uniso. Naquela placa gravada está a indicação de que eu estou no caminho correto. De certo modo, ela representa para mim o certificado de aprovação na primeira etapa do meu aprendizado de docência, concedido por aqueles por quem mais me interessa, pessoalmente, ser reconhecido como bom professor, palavra que também se origina de "profissão"...

A esses alunos, que foram meus professores, como os alunos antes deles, os meus atuais alunos e os que certamente virão no futuro estudar comigo, eu só posso agradecer. Infelizmente perdi a chance de comemorar com eles no baile de formatura, mas mais festivo ainda será ver cada um tomando o seu caminho e, na medida de seu esforço e sua sorte, seja na área do Direito ou não, crescendo e se realizando. Meu desejo é poder ter contribuído um pouco para isso, nem que seja para retribuir o que eu aprendi com eles: como ser cada vez mais humano.

sábado, agosto 21, 2004

Robôs e Direitos Humanos

Há mais de 10 anos, um livro me caiu nas mãos com ótimas recomendações: Eu, Robô, de Isaac Asimov. Minha surpresa foi perceber que não se tratava de um romance, mas de uma coleção de contos. Devorei o livro em menos de uma semana. A leitura rápida teve seu custo, todavia: não me lembro de quase nada das histórias, apenas das famosas Três Leis da robótica, que deveriam tornar segura a convivência do homem com as máquinas, mas cujos desdobramentos inesperados segundo uma mente cibernética eram o mote de cada uma das histórias do livro. Lembro-me ainda de outra coisa: gostei do livro como gostara de poucos que tinha lido até então.

Como boa parte das adaptações de livros para o cinema, "I, Robot" mantém uma graaaande distância do original. Falando francamente, fora o título, as tais Três Leis e os nomes de algumas das personagens, a fita não tem nada a ver com a obra original. Se seguir o original ao pé da letra não garante um bom filme, afastar-se também não faz da fita automaticamente uma bomba; o fato é que o filme é bom. CGI de primeira, boas cenas de ação, as usuais frases espertinhas, em suma: o conteúdo normal dos blockbusters estadunidenses de hoje em dia (o que desgraçadamente inclui, também, uma dose quase insuportável de merchandising). Tudo isso faria um filme assistível, mas tem um outro ponto que me fez gostar do filme. Uma fala, para ser preciso, dita pelo vilão do filme nos minutos finais, que esclarece a razão por trás do comportamento dos robôs NS-5.

***SPOILER ALERT***
O TEXTO ABAIXO REVELA O FINAL DO FILME
LEIA POR SUA PRÓPRIA CONTA E RISCO
***SPOILER ALERT***


O filme disfarça bem seu tema central. Passei todo o tempo achando que, por trás das cenas de ação, existia um fiapo de discussão sobre o que é que nos distingue, seres humanos, dos robôs quando eles fazem tudo o que nós fazemos. Muito pertinente, embora seja inconsistente do ponto de vista da lógica, é o diálogo entre Sonny e Spooner, quando este pergunta se o robô poderia compor uma sinfonia ou pintar um quadro, e ouve a pergunta cruel como resposta: E você, pode? O erro lógico só ressalta a mensagem por trás desse ácida troca de farpas: um robô não teria como se tornar humano, mas o ser humano cada vez mais se parece com uma máquina. Resta a questão do que nos faz "humanos", a resposta parecendo estar na sensibilidade, na capacidade de sentir emoções e deixá-las, por vezes, sobrepujar nossa racionalidade friamente lógica.

Ocorre que, no final do filme, quando VIKI revela as razões pelas quais aparentemente voltou-se contra os humanos, a questão filosófica mais importante do filme, na minha opinião, aparece cristalina: VIKI defende-se da acusação de violar a Primeira Lei - não ferir humanos - afirmando que chegou à conclusão que o único jeito de proteger os homens do perigo seria protegendo os homens de si mesmos por meio da eliminação de sua liberdade, inclusive eliminando os seres humanos que criassem perigos para a humanidade. O problem ético, aí - e esse é um problema atualíssimo - é o quanto a liberdade do homem coloca em risco a sua própria existência e segurança, e o quanto essa liberdade tem de ser restrita se se quer garantir esses dois últimos objetivos.

Essa é uma questão importantíssima. Coloca-se, por exemplo, no cerne do problema criado pelos avanços da tecnologia (até onde determinadas tecnologias devem ser desenvolvidas?), do desenvolvimento econômico (qual deve ser o limite do desenvolvimento para preservar o meio-ambiente?). Coloca-se, principalmente, e é para isso que eu queria chamar a atenção, no dilema da "necessidade" que alguns apregoam de se limitar direitos humanos em nome de uma maior segurança social.

É esse o discurso do governo dos EUA, que afirmam que as chamadas liberdades civis colocam em risco a tal "guerra contra o terror". É com base nesse discurso que centenas de prisioneiros são mantidos presos em Guantánamo sem que se saiba nem quem são eles, nem do que são acusados, em flagrante violação de compromissos internacionais assumidos pelos próprios EUA. É com base nesse discurso que as autoridades policiais estadunidenses têm hoje um amplo espaço de manobra fora de qualquer possibilidade de controle por parte do judiciário.

Mas isso não é privilégio da matriz. Aqui mesmo, no Patropi, esse problema tem grande relevância. É ele que está por trás do malsinado RDD (regime disciplinar diferenciado), que permite que um preso fique até um ano praticamente em confinamento solitário, que seus encontros com seu advogado sejam gravados etc. Está presente, também, quando queremos entrar em um dos muitos edifícios comerciais que exigem que sejamos identificados por foto, ou nos condomínios residenciais nos quais cada canto é esquadrinhado por uma câmera de segurança.

O quanto a liberdade deve ser restrita para que se garanta a segurança?

Não é minha intenção discutir esse problema aqui. Me falta tempo e conhecimento para trabalhar esse tema a fundo. Quero apenas ressaltar um aspecto do problema, sugerido pelo filme, que não pode deixar de ser levado em conta quanto se toma uma posição diante desse dilema: a quem caberá essa decisão? Quem será o garantidor de nossa segurança? Levado um pouco adiante, a pergunta se torna: quem vigia os vigilantes? E esse ponto normalmente é esquecido por aqueles que entendem que devemos restringir liberdades em favor da segurança.

No filme, seria um cérebro positrônico que busca, de uma maneira que seria bem qualificada como "fanática", garantir a integridade pessoal dos seres humanos. O fato de ele querer, em princípio, o bem da humanidade, não garante que a humanidade perceba ua atuação como um "bem"; pelo contrário, é vista como uma forma de aprisionamento.

No mundo real, quando alguém reclama uma redução de liberdade em função de maior segurança, geralmente toma por evidente que o responsável por essa redução será alguém bem intencionado e que não abusará desse poder (pelo menos contra aquele que faz essa reclamação). O problema é que essa certeza é falsa. A mais recente prova dessa falsidade foi a revelação dos abusos em Abu-Ghraib, cometidos justamente pelo exército do país que se apresenta como o defensor da liberdade. Acima do controle de qualquer instância, quem garante que o detentor do poder de controlar nossas liberdades não vai abusar dele?

A continuação desse raciocínio me faria defender a importância do conceito de estado de direito na sociedade moderna. Mas vou parar por aqui, apenas com a sugestão...

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